Todos queremos envelhecer de modo saudável, com boa memória, boa função motora, bom humor, dispostos e sem dores. Muitas doenças neurológicas e geriátricas podem ser preveníveis (em até 90%) como o AVC, a demência e o parkinsonismo de origem vascular. Outras doenças são apenas parcialmente preveníveis, como a doença de Alzheimer. Um estudo demonstrou que o tratamento de fatores de risco, alimentação adequada e a modificação do estilo de vida podem reduzir em até 50% o risco de alguém desenvolver Alzheimer a cada ano, o que corresponderia a postergar o início da doença em 5 anos. De um modo geral, o adequado tratamento dos fatores de risco e a adoção de um estilo de vida saudável, incluindo a alimentação, podem postergar em cerca de 10 anos ou mais, em alguns casos.
Hipertensão
A pressão alta é uma das doenças mais comuns no idoso, silenciosa e, portanto, “traiçoeira”. Um estudo desenvolvido por nós demonstrou que cerca de 70% dos idosos gaúchos têm hipertensão e a maioria não a trata adequadamente. Não é à toa que o AVC, sua principal complicação, é a principal causa de morte aqui no Sul e a demência e o parkinsonismo (micro)vasculares são tão comuns. Outras consequências da hipertensão são o infarto cardíaco, as insuficiências cardíaca e renal, a retinopatia, os aneurismas e o óbito.
Essas complicações costumam ocorrer anos ou mesmo décadas após o início da hipertensão, sendo, portanto, em grande parte preveníveis. O adequado controle da hipertensão exige pressão arterial abaixo de 130 x 80 mmHg, já que as complicações e a mortalidade começam a aumentar a partir desses níveis. No idoso, entretanto, é necessário ajustar os medicamentos para que não haja episódios de hipotensão postural (pressão baixa ao ficar de pé), a qual pode levar à tontura e quedas, especialmente nos pacientes com diabetes, Parkinson ou AVC prévio. Não adequadamente tratada, a hipertensão pode encurtar a expectativa de vida de uma pessoa em muitas décadas ou, tão grave quanto, impor uma carga de sequelas crônicas com as quais a pessoa, muitas vezes acamada, terá que conviver por anos.
Diabetes
Assim como a hipertensão, o diabetes tipo II é também uma das doenças mais comuns no adulto maduro. Também é frequentemente silenciosa e, portanto, “traiçoeira”. Entre as suas principais complicações neurológicas encontram-se: (1) as isquemias cerebrais silenciosas, as quais podem levar à demência e ao parkinsonismo (micro)vasculares; (2) a polineuropatia, importante causa de dor em queimação nas pernas e (3) as alterações do sistema nervoso autonômico/vegetativo como a hipotensão postural (pressão baixa ao ficar de pé) e a constipação e a bexiga neurogênica que pode levar a infecções urinárias e incontinência.
Outras complicações comuns do diabetes são (1) a retinopatia que pode levar à cegueira; (2) a insuficiência renal que pode levar à diálise e (3) a grangrena dos pés e pernas, que pode levar a amputações ou mesmo à morte. Todas essas complicações podem, em grande parte, são preveníveis com o diagnóstico precoce e o tratamento medicamentoso rigoroso associado à dieta. O alvo é manter uma glicemia média de jejum abaixo de 100 e uma hemoglobina glicada (média da glicose dos últimos 3 meses) abaixo de 6,5. O prediabetes (glicose entre 100 e 125) também pode estar associado a algumas complicações como a polineuropatia e deve ser tratado precocemente para impedir a sua evolução e consequências.
Obesidade
Não é normal nem muito menos fisiológico ganhar peso com a idade. O apetite é regulado pelo hipotálamo, no cérebro. A obesidade, em especial na meia idade (40-70 anos), está associada a um maior risco de desenvolver hipertensão e diabetes e a longo prazo, AVC, demência (incluindo Alzheimer), parkinsonismo vascular, artrose, apneia do sono, bem como todas as demais complicações da hipertensão e do diabetes, sempre que estiverem associadas. Além do mais, o devido tratamento da obesidade, com redução do peso, em muito facilita o controle da hipertensão, do diabetes e do colesterol. Também, pacientes com Parkinson, AVC, artrose ou outras doenças que afetem a locomoção, tem a sua mobilidade em muito melhorada pela perda de peso.